sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Quadrinhos que Refletem um Mundo Racista




A DC Comics está fazendo o relançamento de toda a sua linha de quadrinhos neste mês de setembro... A iniciativa da editora era de preparar os quadrinhos para uma nova geração de leitores, mas será que ela reflete essa geração?

Uma das principais reclamações que ocorreram lá fora foi referente às equipes criativas determinadas para as revistas. De todas as 52 edições mensais, apenas uma é escrita por uma mulher: Gail Simone. Esse é um número curioso se analisarmos que as mulheres cada vez mais se interessam por entretenimento antes segregado ao público masculino. Nos Estados Unidos o UFC, por exemplo, tem mais público feminino do que masculino. Nos filmes derivados de quadrinhos vemos cada vez menos jovens solitários, para encontrar muitos casais e até grupos de mulheres assistindo “filmes de garotos”. Então qual o motivo de tão poucas mulheres escreverem quadrinhos na DC e na Marvel? Mesmo que o motivo seja falta de interesse de jovens escritoras, isso não se justifica. Em diversos momentos de crise criativa nos quadrinhos as editoras foram em busca de jovens promissores envolvidos em literatura tradicional para compor seu quadro de roteiristas. Por que não ter essa iniciativa com jovens escritoras?

Mas talvez a questão sexista não seja a mais relevante quando falamos do relaunch da DC. O fato é que vivemos em uma sociedade cada vez mais diversificada culturalmente, sexualmente e etnicamente. Há tempos que não temos negros separados de brancos, judeus separados de católicos ou homossexuais separados dos heterossexuais. Se o objetivo da DC era refletir esse novo mundo, então porque os heróis continuam intocáveis, tal qual foram concebidos a 60 ou 70 anos?


Personagem Batwoman foi criada originalmente em 1956. Em 2006 a DC a trouxe de volta como a lésbica socialite Kathy Kane. Pura ironia do destino, uma vez que a primeira Batwoman foi criada para afastar os rumores de homossexualidade de Batman.


A Marvel recentemente surpreendeu ao anunciar um Homem-Aranha negro e de origem hispânica em sua linha Ultimate, que já contava com o Nick Fury (Personagem originalmente caucasiano). Apesar de ser em sua linha Ultimate e não no universo tradicional, a editora tomou um passo importante em retratar a nova sociedade americana e mundial. Uma pena que seja, por enquanto, uma atitude isolada e não um posicionamento editorial.


Nick “Samuel L. Jackson” Fury


Quem propôs um novo posicionamento editorial e acabou marcando passo em suas decisões, foi justamente a rival, DC Comics. Ao reiniciar seu universo de heróis a editora tinha total liberdade para reinventar seus heróis. Se nos anos 30 um garoto orfão e filho de um empresário milionário tinha, necessariamente, que ser caucasiano para soar minimamente incrível, essa necessidade não mais se impõe em 2011. Uma amazona guerreira não poderia ter a pele escura? Porque não ousar e dar lugar à diversidade em seu panteão de grandes heróis? Se o relançamento já gerou um grande buzz da mídia pela simples mudança dos clássicos uniformes, que foram remodelados e modernizados, imagine se houvesse realmente alguma inovação que aproximasse os grandes heróis do mundo a realidade em que vivemos. Infelizmente heróis negros, latinos e asiáticos continuam relegados ao segundo escalão da editora.


A DC mantém seus personagens principais intocáveis, mas na última formação da equipe Liga da Justiça ela contava com 4 heróis negros: Vixen, Raio Negro, Nuclear e o Lanterna Verde John Stewart(Personagem secundário que patrulha a Terra enquanto o principal Hal Jordan está patrulhando o espaço), mas ainda não dá abertura para personagens de outras etnias...


Para ter uma ideia, a DC manteve na nova cronologia o herói Batwing, que surgiu na saga Batman Inc. de Grant Morrison e deu revista própria para Static Shock (conhecido como Super Choque no Brasil), mas foi incapaz de ousar com seus personagens principais.


Sem coragem para alterar o ícone, editora cria Batwing, um Batman secundário para representar os negros.


Certa vez em uma das famosas histórias do Lanterna Verde e Arqueiro Verde nos anos 70 um homem fala para Hal Jordan – “Eu já li sobre você. Como você trabalha para aqueles de pele azul, e como você esteve num planeta qualquer ajudando uns caras de pele laranja. E você fez bastante também pelos de pele roxa! Só sei de uma cor de pele que você nunca deu atenção! Os de pele negra!”. É certo que um dia a editora mostrou grande preocupação com o respeito à diversificação, mas nunca a abraçando de verdade. É como aquele empresário que se orgulha de contratar funcionários de várias etnias, mas que nunca aceitaria o relacionamento de sua filha com um destes. Se dá o espaço, pois é politicamente correto, mas “mantenha-se no seu lugar”.

A DC tinha uma tela em branco para pintar seus personagens, mas lamentavelmente optou por continuar usando as mesmas cores desbotadas dos últimos 70 anos.

Vi no Páprica

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